Preço da commodity duplicou em 2024 por escassez da matéria-prima na África Ocidental e novas regras da União Europeia.
Adoçar a vida nesta Páscoa está se tornando um desafio cada vez maior. Os consumidores têm sentido no bolso o impacto do aumento significativo no preço do cacau. De acordo com os dados mais recentes, houve um aumento de mais de 100% no valor da tonelada do cacau apenas nos primeiros três meses do ano.
Essa valorização do cacau tem impactado não apenas os consumidores finais, mas também toda a cadeia produtiva que depende dessa importante commodity como matéria-prima. As empresas que atuam no segmento de chocolates têm enfrentando desafios extras para manterem seus produtos competitivos no mercado, diante do aumento dos custos relacionados ao cacau.
A valorização do cacau e suas implicações no mercado
Nem mesmo a Nvidia, vedete do mercado de capitais, conseguiu superar a alta acumulada da matéria-prima nos três primeiros meses de 2024. Ontem, a tonelada do cacau até caiu na bolsa de Nova York, para US$ 9.741, diante do movimento de alguns fundos para embolsar lucros generosos. Durante a semana, a cotação dos contratos futuros chegou a superar a barreira dos US$ 10 mil.
Duas razões justificam o atual cenário. A primeira é a escassez da commodity no mercado global, por causa de problemas especialmente na Costa do Marfim e Gana, dois dos maiores países produtores do mundo.
Esses países registraram quebra de safra por causa de problemas climáticos e também de doenças durante a colheita. As indústrias processadoras acabaram ficando em uma situação difícil, depois que nenhum sinal de alívio na oferta se mostrou suficiente para recompor os estoques.
A demanda e oferta de cacau no mercado internacional
‘Não vejo a demanda caindo com rapidez ou força suficiente para compensar a enorme queda na oferta’, disse Vladimir Zientek, associado da StoneX, à Bloomberg. A quebra na safra de cacau dos países da África Ocidental tem gerado desabastecimento no mercado internacional. A baixa disponibilidade de cacau está tumultuando o mercado futuro.
À medida que os preços sobem nas bolsas, os traders precisam ir ao mercado para comprar novos contratos para cobrir posições vendidas assumidas anteriormente, ou atender as seguidas chamadas de margem da bolsa. O Brasil, que no passado já foi um dos grandes produtores globais de cacau, hoje precisa se abastecer em outras origens para cobrir sua demanda.
A importância do cacau e sua valorização no Brasil
O país produz por ano cerca de 274 mil toneladas de cacau, segundo o último levantamento do IBGE. Para suprir a demanda doméstica, as indústrias precisaram importar 43,3 mil toneladas de cacau em 2023, como realçou a fintech Vixtra. O volume do ano passado foi quase quatro vezes maior que o registrado em 2022, quando o Brasil trouxe do exterior 11,4 mil toneladas do produto.
Ainda que as indústrias brasileiras não tenham precisado pagar US$ 10 mil por tonelada para garantir matéria-prima para a Páscoa deste ano, tiveram que pagar mais. Em 2023, os importadores desembolsaram, em média, US$ 2.547 pela tonelada do produto. Esse valor foi 5,5% mais elevado que os US$ 2.413 de 2022.
A influência do cacau nos preços de produtos de Páscoa
Uma pesquisa do Procon-SP com itens tradicionalmente consumidos durante a Páscoa, como ovos, bombons e tabletes de chocolate, mostra cenários distintos. O preço médio do quilo do bombom, por exemplo, subiu 8,76% em relação ao ano passado. Nos tabletes, a valorização foi de 8,30%.
Já nos cobiçados ovos de chocolate, houve uma queda de 15,52%, caindo de R$ 318,26 para os atuais R$ 268,87. E os sinais no curto prazo não são dos mais positivos para quem aposta em uma queda acentuada dos preços.
As novas regras da União Europeia e o mercado de cacau
Isso porque as novas regras da UE que exigem a comprovação que os produtos importados não sejam provenientes de áreas desmatadas devem entrar em vigor no fim de 2024. Os importadores europeus ainda lutam para comprovar a ‘origem verde’ do cacau que abastece as fábricas. O lobby para que a regulamentação seja adiada tem crescido em Bruxelas.
O atraso para a implementação das novas regras é visto pelo mercado como uma das poucas medidas capazes de derrubar os preços internacionais.
Fonte: @ Info Money
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