O aspecto de abandono de casarões em antigos segmentos sociais mais vulneráveis da Avenida Venezuela inclui a Ocupação Zumbi dos Palmares.
O odor de urina é intenso ao se aproximar do prédio. Cortinas substituem as janelas. Plantas crescem pela fachada, conferindo ao edifício de oito andares um ar adicional de descuido. Tudo aparenta estar desmoronando, se desgastando gradativamente.
Os ocupantes do local improvisaram moradias precárias nos andares superiores. As invasões se tornaram frequentes, trazendo mais desordem e insegurança ao ambiente. A situação dos ocupantes é precária, vivendo à margem da sociedade em condições desumanas.
Ocupações como alternativa habitacional em antigos casarões
No portão de ferro preto da entrada, dois algarismos pintados em branco informam, ao correio, que ali é o número 53 da Avenida Venezuela, na zona portuária da cidade do Rio de Janeiro. Ocupação Zumbi dos Palmares, no centro do Rio – Tomaz Silva/Agência Brasil Esse imóvel insalubre e inseguro, que inclusive está oficialmente interditado pela Defesa Civil, é o ‘lar’ de cerca de 100 pessoas, que, por diversos motivos, precisaram buscar uma moradia e consideraram que ali seria a alternativa menos pior. O local é apenas um entre as 69 edificações abandonadas na região central do Rio de Janeiro, que foram transformadas em moradia por 2.435 famílias sem teto, segundo levantamento publicado recentemente pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Observatório das Metrópoles e Central de Movimentos Populares. De acordo com a pesquisa, 50 imóveis ocupados (72,5% deles) são privados e 19 são públicos (27,5%). A maioria (34 imóveis) é formada por prédios verticalizados. Mas também há ocupações em antigos casarões (18), conjuntos de casas (11), terrenos ocupados (cinco) e instalações fabris ou galpões (um). Em 30 ocupações visitadas, o estudo constatou que as famílias viviam geralmente em cômodos unifamiliares. Mas também foram identificados cômodos nos quais residiam mais de uma família. Os pesquisadores também perceberam que cerca de 25% dos cômodos eram ocupados por mães solos e que mais de 500 crianças moravam nesses imóveis. O levantamento mostrou que a ocupação desses imóveis se torna alternativa habitacional para os segmentos sociais mais vulneráveis, como mulheres pretas, mães solos, pessoas em situação de rua, egressos do sistema penitenciário, desempregados, migrantes, pessoas LGBTQIA+ vítimas de violência, entre outros grupos sociais vulneráveis. Ocupação Zumbi dos Palmares No caso do número 53 da Avenida Venezuela, dezenas de famílias, com idosos, adultos, jovens e crianças, se dividem em cômodos improvisados espalhados pelos andares daquele prédio abandonado, numa região da cidade que vem recebendo milhões de reais em investimentos para revitalização, desde antes dos Jogos Olímpicos Rio 2016. O coletivo de moradores, chamado de Ocupação Zumbi dos Palmares, começou em 2005 e teve que enfrentar uma retirada forçada em 2011, mas, diante da permanência da situação de abandono da edificação, voltou a sofrer ocupações por novas famílias nos anos seguintes. A atual ocupação começou pouco antes do início pandemia de covid-19. Quase 20 anos se passaram desde a primeira ocupação por pessoas sem teto e as incertezas sobre o futuro permanecem entre aqueles que vivem no local. O proprietário do edifício, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), tenta reaver a posse do imóvel na Justiça. O prédio, que já foi sede do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas (Iapetec) está sem uso pelo INSS há anos e é classificado pelo instituto como ‘não operacional’,
Ocupações e a luta por moradia digna
mantendo-se como um símbolo das ocupações na cidade. A presença de ocupantes nesses espaços abandonados ressalta o aspecto da vulnerabilidade social enfrentada por muitas famílias. As invasões desses imóveis refletem a falta de políticas habitacionais eficazes para lidar com a questão da moradia para os mais necessitados. A ocupação desses antigos casarões revela a luta diária dos ocupantes por um lugar para chamar de lar, mesmo que temporário. Em meio ao cenário de abandono, o número de ocupações em áreas urbanas vem crescendo, evidenciando a urgência de soluções para a crise habitacional que afeta tantas pessoas. A ocupação do número 53 da Avenida Venezuela é apenas um exemplo entre tantos outros que demonstram a realidade das ocupações como uma resposta desesperada à falta de moradia digna para tantos brasileiros. A diversidade de ocupantes, que inclui idosos, adultos, jovens e crianças, destaca a complexidade e a gravidade da situação, exigindo ação imediata das autoridades para garantir condições de vida adequadas para todos. A ocupação Zumbi dos Palmares permanece como um símbolo de resistência e luta por direitos básicos, como o direito à moradia. Enquanto as ocupações continuam a desafiar a ordem estabelecida, é fundamental reconhecer a importância desses movimentos na busca por justiça social e igualdade de oportunidades para todos os cidadãos.
Fonte: @ Agencia Brasil
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